terça-feira, 3 de julho de 2007

TV²

Toda a manhã, fria diga-se de passagem, quando eu acordo, me espreguiço, ligo a TV e vou até a cozinha eu enxergo minha casa pela janela. É tamanha a semelhança que eu fico confuso, não sei se olho para fora ou se olho para a sala. Para fora eu enxergo uma televisão ligada, para dentro eu enxergo outra televisão ligada, a mesma ou muito parecida, ao menos a imagem é idêntica. Então eu olho o relógio e noto que estou atrasado mais uma vez para a aula e tenho que sair correndo para não perder o ônibus, sem poder refletir as duas televisões.

Ao meio-dia, quando chego em casa para almoçar me deparo com a mesma imagem e a mesma dúvida, a janela e a televisão. E é só o que eu vejo, graças a minha vista desprivilegiada em que a cena que mais me chama atenção é o Lasier Martins em um simples televisor de 20 polegadas.

Quando fico em casa à tarde, a janela desnuda de cortinas é inevitavelmente a parte que mais me chama a atenção dentre todos os cômodos e objetos daqui de dentro. É sempre a mesma coisa, a televisão ligada consistindo a mesma imagem da minha sala.

Fico me perguntando o que leva uma pessoa a assistir televisão tanto tempo, assim, sem parar. Faz nove meses que eu moro no mesmo lugar e vejo todo o dia a mesma coisa quando estou saindo de casa ou quando estou chegando em casa, até parece que tenho duas televisões, uma interna e uma externa. As vezes que eu paro para analisar melhor eu enxergo uma mão e uma caneca. A caneca então é movida pela mão e some, durante alguns segundos, até retornar a janela, intacta.

Isso tudo me incomoda muito, esse funcionamento quase que mecânico janela, televisão, imagem, caneca, mão e caneca, todo o santo dia. Me dói os nervos, difunde rotina e acomodação na minha cabeça, tudo do que eu mais fujo e nem sempre consigo.

Malditos vizinhos! Nunca me dei muito bem com eles, mesmo não os conhecendo, mas acho que eu não me daria muito bem com uma pessoa que fica o dia inteiro assistindo a Globo e tomando sei-lá-o-quê em uma caneca branca e azul. Tirarei uma foto quando eu olhar pela janela e encontrar um televisor desligado, será o fato e a foto do ano.

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