segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Ex-Tendências

Quando eu te corrigia não era pra te reprimir e me achar o maioral ao tirar proveito de seus defeitos bisonhos. Sempre tive essa tendência ao perfeccionismo, desde a gestação de minha humilde mãe. Quando ela estava no oitavo mês de gravidez eu já estava pronto para o parto, porém quando estava saindo eu falei para o médico me deixar por mais um mês ali dentro do útero, pois ainda não havia aprendido a dar nó de quatro pontas no cordão umbilical.

Também tive tendência ao amadorismo. Certa vez eu era tão fissurado por certas sessões de certos sites de certos conteúdos adultos que eu resolvi fazer mais do que simplesmente o tradicional, então entrei no ramo e comecei a participar. O início foi fabuloso, tinha garotas mudas, festas com piscinas, carros com hidromassagens e aeroportos com bacon. Entretanto, após uma briga com a minha tendência ao perfeccionismo, o final dessa história acabou sendo trágico para minha conta bancária – todavia, foi gloriosa para meus advogados capitalistas, sedentos por dinheiro – devido aos inúmeros processos de violações de direitos autorais de que eu não segui a cartilha.

A primeira semana foi muito difícil de se acostumar a viver novamente a vida medíocre que os brasileiros evangélicos agradecem ter, pois segundo eles, poderia ser pior, tem gente que não tem isso, tem gente que não tem aquilo e coisa e tal. Mas e quem não tem nada? Deveria agradecer por quê, se nada poderia ser pior? Teoria furada essa! Mas voltando assunto, a primeira semana foi dura como o frio do Alaska de 77, não pude nem me re-acostumar aos poucos porque perdi tudo de uma vez só, já falei que esses advogados capitalistas são sedentos por dinheiro? Pois é, tive que entregar tudo à vista, sem parcelas, pra não ir de mudança ao xilindró e ter minha vida publica desossada.

Ora essa, e eu que achava que a expressão “da glória à ruína” fosse somente metáfora de livros. Inocência. Tive essa tendência por alguns alarmantes anos. Depois que perdi tudo, fui para o México, beber la tequila, tragar la marijuana e almoçar panochitas. Fiquei conhecido lá como “El Forastero Mariachi”. Foram semanas de glória até a fatídica data de minha prisão (12 de julho de 1999) por posse ilegal de palhetas etílicas. Não sabia que os mexicanos tinham preconceito com palhetas, tal Brasil e Argentina, dançarina de axé e roupa, político e vergonha na cara, Hitler e judeus.

Voltei ao Brasil no dia seguinte, numa antológica fuga da prisão da cozinha da casa do delegado. A primeira coisa que fiz foi ligar para meu filho, Aristides, porém fui preso, sim, no primeiro dia em que retornei. O patrulheiro que me algemou alega que eu estava destruindo um telefone público quando eu estava apenas tentando colocar a ficha telefônica para efetuar a ligação. Acontece que os orelhões tinham mudado e agora as ligações eram feitas através de cartões. Apertei tanto a ficha na entrada que acabei, sem querer, soltando um parafuso que prendia a lataria do telefone, que foi parar no copo de sukita do poodle rosa de uma socialite loira metida a besta, e que acabou resultando na morte do cão bicha.

Me soltaram no mesmo dia, foi constatado um caso clínico de inocentius chronicus de acordo com o diagnóstico da circunferência de minha cabeça. Caminhei pelos bairros de Passo Fundo por dias e noites, sóis e chuvas, até tirar da minha cabeça essa idéia de tendências. Percebi, com toda a sagacidade dos marcianos de Júpiter que tendência era algo que só funcionava na novela das oito, e resolvi ser eu mesmo, porém criei, involuntariamente, uma tendência em ser original. E morri.