terça-feira, 21 de abril de 2009

05:39

Esses caras passavam a noite em farra com seus olhos cansados, tentando esquecer relacionamentos mal resolvidos no fundo dos copos. Conheci centenas deles, enxugavam sem parar, falavam desordenadamente sobre qualquer assunto que aparecia na cabeça e só cessavam quando alguém lhe pagava algo ou quando o garçom exercia o poder das botas de couro em seus dorsos. Mesmo assim, não paravam por aí, discursavam infinitamente em frente ao público, esperando alguma resposta ou alguma consideração, não levavam nada, apenas olhares de pena.

Possuíam a falsa convicção de que conseguiam controlar a mente e o coração das pessoas com o estalar dos dedos, e mesmo quando tal ação não procedesse, não desistiam e pensavam que isso tratava-se apenas de má sorte ou um descaso do destino.

Durante a noite falavam “foda-se, eu sou auto-suficiente, um puto de um auto-suficiente”. De manhã recitavam poesias para mulheres que sequer o queriam ver pela frente. Pela tarde, dormia como um carneiro, e pela noite chorava em todos os cantos antes de iniciar mais uma interminável e embaraçosa noite de farra.

Pessoas assim eu conheci e muito, mas prefiro guardar meus comentários sobre elas, pois a auto-flagelação os corrompeu e transformou seus berços em caixas de madeiras que situam-se a sete palmos do chão. Jazz in peace, John Coltrane.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Are you Georgexperienced?

Diga que não é o Jimi Hendrix que fura suas orelhas com o ácido de uma fender stratocaster. Well I just can’t say ele canta rouco e em um segundo eu já concordo com uma única frase que foi cantada para fazer sentido a todas as pessoas assim, feito eu, feito você, feito nosso tio que quando novo caiu de bicicleta na frente da casa da garota que amava.

Tem o desenho de última folha de caderno na parte de trás do meu violão, há riscos formando palavras inexistentes, desenhos infantis e uma mancha de chocolate meio amargo que mora ali desde a páscoa passada. A frente está intacta, não se enxerga um único arranhão ou batida, mesmo que com lentes de aumento, além disso, as cordas estão novas, são importadas e custam cerca de 1/3 da minha ríspida e escassa mesada. Eu trocaria as tarraxas, estão meio oxidadas, porém a afinação continua perfeita, tudo idêntico ao primeiro dia em que a vi. Mentira, eu não trocaria as tarraxas.

Perdi milhares. Meu sobrinho. Esqueceu o freio. A bicicleta chocou-se. Eu tocava, sentado. Acho que era The Losing End. Tinha sol na minha testa. Ele andava muito rápido. Mas eu usava óculos escuros. Uma música do Neil Young. Vendo óculos novo para consertar o violão que George Harrison me deu.