terça-feira, 30 de junho de 2009

Debut

E então eles abriram as cortinas, mas ninguém ainda os viu

Pois o essencial, aquele invisível para os olhos, ocupava o palco inteiro


Depois ela entrou

E ele se perdeu no caminho de volta

Queria mais uma dose, mas o whisky tinha terminado


Estava dentro dos lábios dela.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Nova Conjugação e Conceito

Entrou em vigor dia 17 de junho de 2009 em votação no STF


Aproveitando o embalo da reforma ortográfica, nova conjugação:


Eu sou jornalista
Tu és jornalista
Ele é jornalista
Nós somos jornalistas
Vós sois jornalistas
Eles são jornalistas
Só quem não sabe ler e escrever não é jornalista



E um novo conceito:


jornalismo sm 1. A profissão do jornalista. 2. A imprensa jornalística. 3. Culinária, corte e costura.


Clique aqui se você não lê jornais

terça-feira, 16 de junho de 2009

Em prol do movimento dos anti-guarda-chuvistas

Certas ocasiões e certos dias bem chuvosos determinaram em minha sã consciência de que os guarda-chuvas não são nossos amigos, pelo menos não em sua totalidade. Anos e anos desprovidos desse tal protetor molhado fizeram-me não só desgostar de sua (in)utilidade como de criar mentalmente o movimento dos anti-guarda-chuvistas.

A última vez em que usei um guarda-chuva, já não me lembro mais quando foi, tamanha desilusão e decepção que este (in)utensílio me causou ao longo de minha vida. Quando pequeno, nunca usava, preferia voltar da escola correndo e protegido com as abençoadas marquises que compunham o caminho de casa. E hoje, já não volto mais da escola, volto da universidade, e já não corro mais nos dias chuvosos, apenas caminho. O único movimento da sinfonia que continua o mesmo é o de se proteger embaixo das já mencionadas abençoadas marquises, o reduto para nós membros do movimento, e que nos causa revolta quando um inimigo de guarda-chuva utiliza a marquise como segunda protetora da chuva que cai do céu. Eles invadem sem piedade nosso território, segurando firme o guarda-chuva no alto e caminhando por baixo das marquises, rente às lojas do centro, deixando nós indefesos, com a obrigação de sair debaixo de nossa proteção e pegar por um segundo a chuva incessante para não corrermos o risco de sermos atingidos pelas pontas metálicas que se transformam em armas quando se situam ao lado de nossos frágeis olhos.

Sempre que cai água, observo as pessoas que vão até o ônibus com seus guarda-chuvas e que ao sentarem no banco, umedecem as pernas, enquanto eu, também com o corpo úmido, mas sem um encosto molhado para ficar carregando de um lado para o outro. Já presenciei inclusive, quando chove cântaros e venta tufões, pessoas ensopadas embaixo do guarda-chuva, óbvio que é um caso à parte, entretanto prova que utilizar um objeto antiquado e deselegante em certas circunstâncias não passa de teimosia .

Como não é possível abolir o guarda-chuva, ao menos, deveria ter restrições quanto à sua utilização. Bem como não se estaciona veículo algum em faixa amarela, não deveria usar o (in)utensílio metálico embaixo das marquises, defendo essa causa para o bem do movimento e não abro.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Precisei de comprimidos em um dia de fevereiro

Desculpe, isso é uma emergência

Doutor, cadê você?

Eu quase tive um infarto

Doutor, cadê você?

Isso mexeu com a minha cabeça

Doutor, cadê você?

Doutor

Douto

Dout

Dou

Do

.

Dor

.

Dor

.

Dor

.

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quinta-feira, 4 de junho de 2009

Um Estranho Pura-Vergonha

O cara entrou no ônibus na minha frente, óculos de grau, jaqueta de couro muito mais larga que o tronco e cabelo curto enrolado. Não tinha mais lugar para sentar, o ônibus já estava na penúltima parada do Campus e no horário de saída das aulas, passei a roleta e fiquei de pé, com a mão no puta merda. Na última parada antes de sair da universidade o cobrador soltou, rindo, o bordão “um passinho a frente aí pessoal”. Baita filho da puta, ao falar com escárnio por um momento eu desejei que entrasse um ladrão e apontasse um 38 no rim do motorista sem mulher.

Naquele ônibus lotado encontrei mulheres lindas que me olhavam, mulheres lindas que não me olhavam, mulheres simpáticas que correspondiam meus olhares e mulheres solteiras encalhadas que não tiravam os olhos de mim. Resolvi ir um pouco mais pra frente, pois estas são as piores, fugi delas e cheguei perto do cara. Diferente de mim, para ele ninguém olhava, nem ele mesmo tentava se olhar pelo vidro, passou o trajeto inteiro despercebido dirigindo seus olhos para o chão, cabeça baixa como se tivesse medo do mundo.

Quase perto da minha parada liberou um lugar na frente do cara, uma moça tinha se levantado para descer e sobrou o banco do corredor. No assento da janela tinha uma garotinha introspectiva, cara de querida, super quieta, super na dela. O assento ficou desocupado por aproximadamente um minuto e o cara não sentou, o ônibus continuava cheio, ainda havia aproximadamente umas 15 pessoas de pé e aquele cara não sentou com um banco na sua frente, talvez ele teve medo de ficar do lado de uma garota, foi a única coisa que eu pensei no momento depois de analisar os trejeitos do nerd. Ele parecia que não iria sentar mesmo quando uma mulher que estava atrás dele pediu licença, perguntou se ele ia sentar ou não, ele não respondeu, apenas abriu espaço para a mulher sentar.

Mais uma parada à frente e aconteceu a mesma coisa, ao lado do banco vazio ficou uma garota, ele não sentou, passei na frente e sentei, mesmo sabendo que já teria que levantar para descer. Naquele momento a minha cabeça já pensava que ele tinha problemas, tais como hemorróidas ou esfíncter frouxo, mas antes de eu terminar meu pensamento a respeito do cara, um sujeito idoso levantou do assento, aqueles assentos únicos e o cara rapidamente tomou o lugar do velhote. Sentou porque não tinha ninguém do lado, não haveria de ter, óbvio, entretanto permaneceu o tempo inteiro de pé apenas por vergonha de dividir o lugar com alguém desconhecido.

Há mais pessoas assim na cidade do que a gente imagina, os antônimos dos sem-vergonhas, são os pura-vergonhas que possuem aquela timidez doentia ou talvez nem seja isso, de repente é um ódio mortal da sociedade e das pessoas, misantropia aguda, ou receio de mulheres, não sei ao certo, achei melhor descer daquele refrigerador ambulante e ir pra casa me esquentar na frente da lareira, porém no meio do caminho me lembrei que não tinha lareira. Que merda.