segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Bendita Ignorância (do próximo)

Hoje, no meio da manhã, por volta das 10 horas, fui ao hospital visitar minha irmã que está internada lá desde sábado fazendo uns exames neurológicos. Os quartos do hospital não possuem tv a cabo, mas para que tv a cabo em um leito de mulher se existe a Rede TV!? Estava conversando com ela enquanto passava aquele tradicional programa das celebridades. No início estava interessante de certa forma, mostrando algumas notícias sobre cinema, mas foi um momento efêmero. Imediatamente foi ao ar uma reportagem delicadamente pormenorizada sobre a morte do ex-marido-aspirador-nariznervoso da Susana Vieira.

Falta de cabimento, assunto ou visão de mundo se importar tanto com a vida de pessoas famosas, ou no caso, pseudo-famosas? É falta de consciência alimentar a frivolidade das pessoas que ainda não se encontraram e necessitam falar dos outros por não se conhecerem profundamente através da imprensa. Outro requisito para trabalhar no ramo, o repórter (?) do sexo masculino, biologicamente, apenas biologicamente falando, possuía naturalmente. Com sua voz “falsetada” e delicada, um escárnio esnobe e um tom blasé, discorreu a reportagem (disparate?) durante intermináveis minutos, fazendo com que eu achasse aquele quarto de hospital a maior chateação do momento. Falei “que absurdo perderem tempo com isso” e ninguém me deu bola, estavam atentos demais à Semp Toshiba de 14 polegadas com imagem chuviscada.

Não bastasse simplesmente o teor da balela ser entupido de futilidades, o linguajar e as indagações do repórter biologicamente masculino beiravam horas ao absurdo, horas ao burlesco. Quem são eles para diagnosticar e prognosticar relacionamentos? Por que é tão absurdo uma mulher se casar com alguém vários anos mais novo? Estas pessoas que convivem nesse meio em pleno século 21 não adoram falar que são modernas, que o conservadorismo é coisa senil e que devemos ter mentes abertas? Hipócritas! Burros! Mesquinhos! Têm o poder de formar opiniões a milhões de telespectadores brasileiros, mas não possuem nem conceitos e ideologias próprias, se contradizem com as próprias palavras.

Chega a ser gratificante pra mim, pois pessoas como essas reforçam meu egoísmo, minha megalomania, meu pedantismo e, conseqüentemente, minha auto-satisfação. Abençoados sejam os misantropos, os nômades, os monges, os solitários guardas-florestais e as pessoas como eu, como você, que se recusam a sujar as mãos com pessoas deste porte pelo singelo fato de acharem que a ignorância alheia é uma estupenda maravilha para o ego.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

( 1 )

"Agora agradeçam o nosso conveniente desdém por aquela situação que, até estes exatos minutos, continua tão insignificante e jocosa para nossas vanguartistas pretensões".

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Não tenho (mais) simpatia pela coçação de saco

Quando fico deitado, só de samba-canção durante a madrugada e não consigo pegar no sono eu geralmente penso “Porra! Deveria eu fazer algo útil em vez de ficar aqui deitado, contando Barrichellos quebrando carros”.

Todo mundo tem suas obsessões. Eu, nos últimos dias, ando obcecado pelo tempo, mas não o meteorológico, o tempo cronometrável. Dia desses resolvi não pagar uma conta no banco pois a fila estava além da rotatória. Pensei que não renderia eu levar a manhã inteira para pagar a maldita conta se eu tivesse a oportunidade de receber cinco vezes mais o valor do juro, durante o mesmo tempo de fila, só vendendo frios e bombons que minha mãe fez, abre parênteses: por sinal uma maravilha, uma porta aberta para o mundo da gula, fecha parênteses: na feira da cidade. Fiz isso e valeu a pena, no outro dia não encontrei fila nenhuma no mesmo banco e paguei, sorridente, alguns centavos a mais, porém com o dinheiro do fim de semana garantido na carteira.

Portanto, permaneço na cama, atônito, angustiado por não conseguir dormir devido a herança da insônia que minha (nem tão) generosa mãe me doou. Certamente, quando isso acontece, acordo atrasado par ao trabalho, o que eu acho ótimo, pois assim não fico pulando pela rua, esperando tediosos minutos na parada de ônibus.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A Queda em 3 Atos

Primeiro: O futebol estava sendo o principal responsável por machucar suas veias enquanto chovia numa noite de quarta-feira de um infeliz dia de um ano chinelo. Ao mesmo tempo, um sorriso à la Steven Tyler brotava no rosto de um garoto que recém tinha ganhado uma moto nova e sabia dirigir tão bem quanto um pedreiro declamando poesias. Desceu até a garagem, viu que chovia, mas precisava urgentemente ir até o banco buscar dinheiro para pagar alguns agiotas caridosos que recém tinha lhe dado uma cicatriz bucal de presente. A chuva apertava, o time amarelão ganhava e o All Star azul já encharcava mesmo antes de sair de casa, mas ele colocou uma estúpida idéia dramatúrgica na cabeça de que a chuva lavaria seus problemas e foi, feito uma criança perante um videogame. Abriu o portão elétrico da garagem, subiu a rampa e acelerou, talvez um pouco demais para o estado do asfalto, não sei, mas acelerou valendo e parou em seguida, no chão.

Pode ter sido ruim, mas se não fosse o tombo, ele não teria escapado de um assalto que estava ocorrendo aos caixas eletrônicos naquele exato momento. Entretanto, levando em conta que um dos assaltantes era seu irmão, outro seu primo e outro seu melhor amigo, que hoje moram juntos na Costa Rica e tomam chamapgne no café da manhã na beira da psicina, e que, provavelmente o levariam junto na fuga, ou no mínimo o presenteariam com dinheiro para pagar os agiotas, não valeu tanto a pena.


Segundo: O prezado moço sai, com muita relutância e obrigação, para a universidade de manhã, às 8 horas e 15 minutos como de costume, após comer um sanduíche de mortadela e queijo no café da manhã. Tendo assistido alguns dias antes na televisão que os franceses degustavam queijo mofado, resolveu deixar o queijo minas fora da geladeira por algumas semanas, só para experimentar, mas o resultado foi tão além das expectativas que de experimento passou a ser saciedade. Olhou para o céu ao norte e viu um sol forte que quase cegou seus olhos, tornando-os mais inchados do que o natural. Ao leste havia uma Cúmulos Nimbus violenta se procriando, mas isto só foi notado na hora do acidente. A moto já havia sido batizada e, devido ao atraso, saiu em disparada para a universidade. Passando por uma ladeira íngreme em uma ruela estreita, muito estreita e quase deserta, se não fosse uma caminhonete larga, muito larga à sua frente, viu a chuva iminente se aproximar. Calculou em média uns 10 minutos até os baldes d’água caírem violentamente sobre a cidade, mas sempre foi péssimo em matemática. No exato momento, gotas do tamanho de pingos d’ouro começaram a lavar o asfalto. Normalmente, apenas uma gripe seria contraída, mas “no meio do caminho tinha uma lombada, tinha uma lombada no meio do caminho” e, junto dela, uma caminhonete freando bruscamente assim, de sopetão, e no meio do caminho ficou um corpo mais envergonhado pelo tombo infantil do que dolorido pela queda.

Pode ter sido ruim, mas se não fosse o tombo, ele não teria ido à farmácia comprar merthiolate para curar as feridas, se tornado amigo da farmacêutica e vendido para ela um CD de sua banda por 5 reais. Entretanto, levando em conta que o merthiolate custou 7 e que a farmacêutica foi demitida um dia após e sumiu feito Wally na multidão, não valeu tanto a pena.


Terceiro: Ele recém tinha comprado uma moto nova, 8 vezes mais potente que sua não ex, porém antiga vespa. Depois de acordar ao meio-dia de um finíssimo sábado de primavera, almoçou fragmentos de comidas congeladas, tudo resultado de sua ínfima capacidade culinária. Como dizem lá de onde eu venho, era um sábado “daqueles”, em que a pior coisa que acontecesse seria explosivamente maravilhosa, então nem vou citar a melhor. A lua tinha mudado, e o camaleão do humor não se empolgava de tal jeito desde uma corrida ocorrida em 2002 quando ganhou 720 reais no turfe. A nova moto, ainda nem fora nomeada, muito menos batizada, mas isso só até aquele sábado. Da mesma forma que era 8 vezes mais potente, era também 8 vezes mais pesada, fazendo seus músculos labutarem intrepidamente. Girou a chave e a moto roncou maliciosamente como tinha que ser. Roncou o motor incontáveis minutos apenas para acostumar seus ouvidos do mais feroz e atroz barulho descoberto até o momento que o acompanharia durante a tarde inteira, se não a noite também. Aprumou o corpo, balanceou o peso e acelerou rumo à saída da garagem, calmamente, sentindo com intensidade a sensação de alívio promovida até mais ou menos uns 20 metros à frente, quando foi traído pelo seu mais custoso negócio. Foi outro tombo, o menor e o menos dolorido, mas isso fisicamente. Quando o motor da motocicleta apagou no começo da descida, levando-a para o chão instantaneamente, o camaleão do humor só teve tempo de sair de cima para não esmagar suas pernas e ao invés de se aliviar, se desesperou. O que aconteceu com a motocicleta foi tão cruel e mórbido que não vou entrar em detalhes, o preço da peça quebrada mais barata após o tombo era absurdamente salgada, então nem vou citar a mais cara.

Pode ter sido ruim. E foi. Realmente foi muito ruim.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Ex-Tendências

Quando eu te corrigia não era pra te reprimir e me achar o maioral ao tirar proveito de seus defeitos bisonhos. Sempre tive essa tendência ao perfeccionismo, desde a gestação de minha humilde mãe. Quando ela estava no oitavo mês de gravidez eu já estava pronto para o parto, porém quando estava saindo eu falei para o médico me deixar por mais um mês ali dentro do útero, pois ainda não havia aprendido a dar nó de quatro pontas no cordão umbilical.

Também tive tendência ao amadorismo. Certa vez eu era tão fissurado por certas sessões de certos sites de certos conteúdos adultos que eu resolvi fazer mais do que simplesmente o tradicional, então entrei no ramo e comecei a participar. O início foi fabuloso, tinha garotas mudas, festas com piscinas, carros com hidromassagens e aeroportos com bacon. Entretanto, após uma briga com a minha tendência ao perfeccionismo, o final dessa história acabou sendo trágico para minha conta bancária – todavia, foi gloriosa para meus advogados capitalistas, sedentos por dinheiro – devido aos inúmeros processos de violações de direitos autorais de que eu não segui a cartilha.

A primeira semana foi muito difícil de se acostumar a viver novamente a vida medíocre que os brasileiros evangélicos agradecem ter, pois segundo eles, poderia ser pior, tem gente que não tem isso, tem gente que não tem aquilo e coisa e tal. Mas e quem não tem nada? Deveria agradecer por quê, se nada poderia ser pior? Teoria furada essa! Mas voltando assunto, a primeira semana foi dura como o frio do Alaska de 77, não pude nem me re-acostumar aos poucos porque perdi tudo de uma vez só, já falei que esses advogados capitalistas são sedentos por dinheiro? Pois é, tive que entregar tudo à vista, sem parcelas, pra não ir de mudança ao xilindró e ter minha vida publica desossada.

Ora essa, e eu que achava que a expressão “da glória à ruína” fosse somente metáfora de livros. Inocência. Tive essa tendência por alguns alarmantes anos. Depois que perdi tudo, fui para o México, beber la tequila, tragar la marijuana e almoçar panochitas. Fiquei conhecido lá como “El Forastero Mariachi”. Foram semanas de glória até a fatídica data de minha prisão (12 de julho de 1999) por posse ilegal de palhetas etílicas. Não sabia que os mexicanos tinham preconceito com palhetas, tal Brasil e Argentina, dançarina de axé e roupa, político e vergonha na cara, Hitler e judeus.

Voltei ao Brasil no dia seguinte, numa antológica fuga da prisão da cozinha da casa do delegado. A primeira coisa que fiz foi ligar para meu filho, Aristides, porém fui preso, sim, no primeiro dia em que retornei. O patrulheiro que me algemou alega que eu estava destruindo um telefone público quando eu estava apenas tentando colocar a ficha telefônica para efetuar a ligação. Acontece que os orelhões tinham mudado e agora as ligações eram feitas através de cartões. Apertei tanto a ficha na entrada que acabei, sem querer, soltando um parafuso que prendia a lataria do telefone, que foi parar no copo de sukita do poodle rosa de uma socialite loira metida a besta, e que acabou resultando na morte do cão bicha.

Me soltaram no mesmo dia, foi constatado um caso clínico de inocentius chronicus de acordo com o diagnóstico da circunferência de minha cabeça. Caminhei pelos bairros de Passo Fundo por dias e noites, sóis e chuvas, até tirar da minha cabeça essa idéia de tendências. Percebi, com toda a sagacidade dos marcianos de Júpiter que tendência era algo que só funcionava na novela das oito, e resolvi ser eu mesmo, porém criei, involuntariamente, uma tendência em ser original. E morri.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Pane Seca e Olho de Vidro

Em alguma madrugada, entre maio e junho, ou julho (abril?) de 2007.


O ônibus atrasara 15 minutos, o que poderia ser considerado uma vitória, geralmente os atrasos eram de meia hora. Eu viajava lendo Que Loucura! de Woody Allen, grande figura, quando o motorista resolve parar e encostar o ônibus na beira da estrada, e desligando as luzes, o que me enraiveceu até eu descobrir que as luzes apagadas eram o de menos.


Vinha concentrado no livro e ao mesmo tempo concentrado em pensamentos negativos. Andei imaginando que mais dia menos dia eu iria presenciar um episódio de ônibus quebrado ou assalto ou seqüestro ou o diabo a quatro, viajo tanto de ônibus que isso me parecia inevitável acontecer, afinal ocorre tanto dessas coisas hoje em dia. Só não imaginei que esse capítulo estaria tão próximo, o ônibus parou e eu me direcionei até a cabine do motorista para me inteirar do que estava havendo.


Pane seca! Como assim pane seca em um ônibus? Como que as pessoas podem ser tão incompetentes a ponto de deixarem o ônibus sem diesel? Fiquei me perguntando isso, parado, no escuro, enquanto um cara ao meu lado tragava seu cigarro e ria de tudo. Não que não fosse engraçado, mas não é algo que você anseia, algo do tipo “oba! vou viajar hoje, tomara que o ônibus quebre!”, e era assim que aquele cara se comportava, desfrutando ao máximo de todos os momentos como se fosse tão ou mais prazeroso que um churrasco de domingo.


Por sorte do acaso, um outro ônibus da mesma empresa estava atrasado e acabou passando por nós aproximadamente 5 minutos após o ocorrido. Pensei: Beleza! Vamos de carona! Entrei correndo no ônibus, joguei minha mochila nas costas e desci correndo feito uma criança da 3ª série que acaba de ouvir o sinal do término da aula, mas acabei me frustrando ao saber que o rumo era totalmente ao contrário. Resolvi voltar ao ônibus e esperar, afinal como mecânico sou um ótimo agricultor.


Logo que me sentei o motorista entrou novamente, tranqüilo demais para o meu gosto, e avisou que estava indo ao posto com o outro ônibus e que não demorava. Explicou o funcionamento do painel, aonde ligava e desligava as luzes, abria e fechava a porta e etc. Então saiu, olhei para a janela, tudo escuro, estava dentro de um trambolho com uma luz intermitente no meio da estrada, no meio do nada com apenas mais duas pessoas.


Senti-me indefeso e divaguei sobre minha potencial capacidade de prever ou de fazer meus pensamento tornarem-se reais, mas resolvi me agrupar com as outras duas pessoas e fazer um social. Havia um rapaz, um pouco mais velho que eu, e uma mulher, mais velha que eu, mas nem tanto, devia estar ali na casa dos trinta anos. Belos trinta anos, por sinal, mas isso não vem ao caso, seria perfeita se tivesse os olhos menos atraentes um ao outro e se o olho esquerdo não fosse de vidro.


O cara que estava junto falava pouco, e eu também falava pouco, apenas a mulher falava e ambos nós dois concordávamos com tudo que ela dizia. Uma hora ela começou a se queixar de que pior de tudo que estava acontecendo é que ela estava de ressaca. Contou detalhes da noite anterior, que bebeu três litros de conhaque com suas amigas e que tinha um amigo viciado em maconha. Relatou ela, que o amigo fumou cinco baseados do seu lado e, por isso, ela passou mal, como se os três litros de conhaque fossem coca-cola. E então começou a falar que nunca tinha usado drogas, que bebia pra caralho, mas jamais sentiu vontade de experimentar aquilo que o diabo e os artistas gostam.


Já não agüentava mais permanecer confinado naquela joça, sentei no degrau da escada próximo a porta e fiquei olhando para a porcaria dos detalhes do ônibus. Notei a presença de alguns filhotes de baratas entrando e saindo pelo câmbio furado. Quando levantei tive que me sacudir aos montes para tirar toda a poeira que se acumulou enquanto estive sentado.


Passados uns trinta minutos, o motorista voltou com o diesel. Abasteceu o tanque e resolveu o problema, com alguma relutância do ônibus em voltar a se mover, mas com insistência e sangramento a carroça acordou.


Chegamos em Carazinho e outra demora. Dessa vez o motorista precisava descarregar umas encomendas e uns pneus alojados no bagageiro. Não entendi como que pode demorar tanto para tirar algumas coisinhas de dentro, mas tudo bem, nesse meio tempo passeei pela rodoviária, observando pessoas estranhas. Tinha um cara do Correio do Povo ali – desses que levam os jornais para outras cidades – que não havia apelido mais propício senão Mr. Bean, nunca tinha visto ninguém mais parecido com o personagem idiota desde um filho de um ex-professor meu.


Passaram-se uns vinte minutos e seguimos viagem, finalmente estaria chegando em Passo Fundo com duas horas de atraso, voltei a atenção ao Que Loucura! e quando menos percebi tinha chegado. Ao descer na rodoviária, o cara rumou para o lado oposto de onde eu estava indo e a mulher se deliciava aos beijos do namorado. E eu, fui logo pra casa, tinha lasanha para a janta.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

"Cara, a velha era muito louca"

Eu tinha umas mensagens, assim, bem legais, bem bacanas, tipo eu olhava e me regozijava, de tão bom, sabe? Mas aí eu não podia guardar mais essas mensagens, cara, tipo, tinha um pessoal lá perto de casa que se enxergasse uma lasquinha só, cara, deus sabe lá o que ia acontecer da minha vida, cara, assim, não que eu não tenha juízo, ache mcdonald’s tico mole e não agüente o sotaque bicha do Caetano Veloso, mas todas esses lances, assim, desse jeito louco, não dá pra agüentar. Dia desses, meu, eu tava com um amigo meu, assim, amigo mesmo, desde os tempos de bodoque, e a gente tava na parada de ônibus, esperando o ônibus né, e aí nisso chegou uma velhinha, devia ter no mínimo uns 82 anos e perguntou né, pra esse meu amigo se ele tinha um cigarro, tipo, a velhinha tri mal, muito engraçado. Aí ele respondeu que ele não tinha, ele não fuma mesmo né, aí tipo, não sei que deu que a velha se pirou, cara, e ficou indignada né, perguntou pra ele por que ele não tinha, cara, a velha era muito louca, aí ele respondeu que ele não gosta de cigarro, e nossa, a velha se pirou mais ainda, parecia algo de outro mundo alguém discordar das idéias da velha, aí a velha né, perguntou, cara, como é que tu não gosta? não consigo imaginar uma coisa dessas, dizia ela, ta ligado? Aí, bah, muito engraçado cara, meu amigo ainda dava trela pra mulher, respondeu tri na paz, que ele não gostava do cheiro do cigarro, que incomodava ele e tal, ele não curtia, sabe? E aí, bah, nem acredita, a velha teve tipo uns chiliques, ta ligado? Nossa, coisa de filme, ela pulava, cara! A velha de 82 anos pulava, e alto ainda, uns dois tijolos, aí tipo, perguntou por que ele não gostava do cheiro. Velho, aí foi gota d’água, a velha era muito chata, nem esse amigo meu que é o cara mais hare-krishna do mundo se agüentou, velho. Ele chegou, olhou pra velha, cara, e começou a tipo, berrar no ouvido dela: “eu não gosto por que é fedido, ta entendendo? Se eu acho que algo tem cheiro ruim é porque é fedido, e eu não gosto de coisa fedida! Tu quer algo fedido? Por que não come merda então, sua velha, ignóbil, cabeça de guidão, troxa, palhaça, cérebro de porquinho-da-índa, burra pra burro! Não me apareça mais pela frente!” Cara, demais, bem na hora que ele terminou a frase o ônibus, tipo chegou, tipo bem na hora ta ligado, aí a gente subiu e sei lá, sei que a velha tava parada, ficou tipo estátua, saca? Não sei o que aconteceu, mas que foi bala, foi bala!

terça-feira, 20 de maio de 2008

Pelé

Desde sempre criei a mania de trocar a noite pelo dia, e junto a isso, também criei o hábito de comer muito de madruga, de secar a geladeira por que os armários já estavam vazios. Tudo isso por causa do meu abençoado metabolismo, que faz parecer com que um frango inteiro ingerido se torne um reles sanduíche de presunto e queijo, magreza mil. E é normal, mesmo fazendo silêncio, se faz barulho na calada madrugada, algo inevitável, você escuta até o piscar dos olhos. São esses ruídos que me incomodam, por incomodar quem está dormindo, que acabam me incomodando no outro dia, como um ciclo (o A incomoda o B, que espera, quieto, na sua, até o amanhecer, para se vingar do A, que espera, quieto, na sua, até o anoitecer, para se vingar do B).


O barulho mais irritante, mais inesgotável e mais incessante, pelo fato de eu limpar a despensa é o do microondas. Aquela caixa grita quando liga, grita quando programa, grita quando cancela, grita quando desliga, grita até quando não grita, uma verdadeira sinfonia de bips (uma sequência, o botão A grita para o botão B ligar, o botão B grita para o botão C programar, o botão C grita para o botão D esquentar, e o botão D grita para o botão E desligar).


Conheço várias pessoas que também se irritam com esses monótonos apitos xaropes. Eu tinha um amigo uma vez, o Jagunço. Jagunço por que ele nunca era capaz de pensar em nada sozinho, era um infame, mas sempre protegia a galera com unhas e dentes, ou soqueiras e pedaços de pau. Acontece que o pai do Jagunço era americano, ex-membro do esquadrão anti-bombas e ex-militar, tendo inclusive uma participação vital na Guerra do Golfo (paralisou o avanço de um exército inimigo ao ter um ataque epilético em frente a um tanque de guerra). Além do pitoresco episódio da epilepsia, o pai de Jagunço herdou, devido seu trama com bombas, um choque de guerra, e passou a ouvir tilintares à distâncias absurdas, que o deixavam paranóico. Mas até aí tudo bem, medicações controlavam sua condição, até que um dia o coitado tomou o comprimido errado e foi dormir. Até hoje sinto pena do Jagunço, que se culpa todos os dias por acionar o microondas e fazer seu pai sofrer um ataque de histeria e pular da janela do 8º andar pensando que havia terroristas em seu prédio.


De fato esses barulhos são fatais. Um outro amigo meu, o Cerveja, grande figura diga-se de passagem, insiste até hoje que quando era menor ficou 3 meses sem receber mesada só por que quando chegou em casa, bêbado diga-se de passagem mais uma vez, esquentou um cachorro-quente e acordou sua família com o barulho do microondas, o que não é verdade. Cerveja não lembra de muita coisa e jura que foi o microondas que acordou seus pais. O que prova que se pode culpar o microondas até quando ele não é o culpado.


Não quero dizer que o microondas seja um péssimo eletrodoméstico, muito pelo contrário, é a salvação dos solteiros que não sabem cozinhar. O microondas é como certos seres, que mesmo gênios naquilo que fazem, são, quando calados, poetas. Entende?

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Eu, Workaholic

Bendita segunda-feira que amanhece. Congratulações para o brilho do sol que entra na janela sem cortina às 7 da manhã. Uma salva de palmas para o despertador estridente que interrompe o sono tedioso. Saudades de madrugar, tomar um café amargo e sair correndo de casa, pegar um ônibus lotado e ir direto para o trabalho. Ah! Quanto trabalho!

Coisa ruim é ter que agüentar o domingo, ensolarado ou chuvoso, tanto faz, isso é o de menos, coisa ruim é ter que agüentar o domingo. Só de pensar em todas aquelas pessoas acordando depois das 10, almoçando depois da 1, dormindo, assistindo futebol com uma lata de cerveja na mão, passando as tardes com pipoca, bolo de chocolate, Faustão e Gugu, tomando chimarrão na praça enquanto observam o movimento e aquela montoeira de crianças chutando bola, andando de bicicleta em círculos, berrando. As lojas fechadas fazendo os comerciantes todos caírem no ostracismo dominical. Isso é coisa ruim.

Coisa pior é agüentar o ócio. Nada pra fazer, nada pra copiar, nada pra inventar, nada pra entregar, nada, nada, nada. Só torcer, para que o domingo passe na velocidade da luz, por que a segunda-feira vem aí, e é grande a saudade de ser xingado e chamado de incompetente pelo chefe. É segunda-feira e as pessoas estão de mau humor, não da pra entender!