terça-feira, 15 de março de 2011

Into The Wild

Há algum tempo atrás fiz uma viagem e de lá não estava preparado para voltar para casa, pelo menos não com uns dias de antecedência ao planejado. Pela primeira vez em meses eu tinha planejado datas certas de idas e vindas, inclusive comprando passagens de ônibus com antecedência, tudo muito normalzinho, muito cauteloso. Quando aconteceu o imprevisto de ter que voltar antes senti um baque no momento, mas encontrei satisfação horas depois em um sentimento que me estimula, o de imprevisibilidade.

Saí de onde eu estava hospedado com minha bagagem e fui para a afastada rodoviária, longe do centro da cidade. Ainda era de manhã e faltavam 10 horas para o meu ônibus estacionar no Box A. O único lugar onde eu poderia matar este tempo sem me entediar era um shopping que ficava bem à frente da rodoviária, rumei pra lá com a mochila nas costas e me senti um personagem de Mallrats.

Depois de ter feito tudo que eu achei útil no shopping (almoço, cinema e café) resolvi entrar pela segunda vez na livraria, mas dessa vez para comprar um livro e não só para olhar os preços. Precisava de algo que me distraísse e que me ajudasse naquele momento em particular. Poderia ter simplesmente tomado um chopp, mas preferi pesquisar por algo mais profundo dessa vez. Fã convicto de Jack Kerouac, fui reto na letra J da prateleira. Encontrei Visões de Cody, há muito tempo na minha lista e fiquei segurando-o por uns quarenta minutos, tempo estimado do fim da minha busca. Na última estante antes de ir para o caixa aparece à frente dos meus olhos este livro, Na Natureza Selvagem de Jon Krakauer.

O primeiro contato com essa história que tive foi pelo filme, dirigido pelo Sean Penn. É uma história de liberdade que muita gente sonha em viver. O contexto em que eu vivia na época não podia ser mais apropriado, estava com uma vida itinerante pelos litorais de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, conhecendo as grandes cidades e as prainhas e dormindo em locais aleatórios.

O livro, diferente do filme, não foca apenas na história de Chris McCandless, jovem que ao se formar na faculdade abandonou a família e foi viver perigosamente junto à natureza. Tentando manter-se afastado das relações e afeições sociais, perambulou de cidade em cidade, desertos e estradas vazias sem uma rota certa, mas com um rumo definido há muito tempo, o Alaska. É de se impressionar a quantidade de lugares em que Chris chega sem a preparação necessária e a forma com que consegue sobreviver sempre com o mínimo possível. Durante o folhear das páginas são discorridas também histórias de aventureiros similares a Chris, além de uma aventura do próprio autor, Jon Krakauer, escalando a geleira Stikine no Alaska

Comecei a ler o livro ininterruptamente e logo me senti a salvo daquele falso sentimento de objetivo não cumprido. Consegui enxergar o futuro acima de tudo. É incrível como os melhores livros de auto-ajuda não são os que são escritos para este fim, são aqueles que te tiram do atual ambiente de mal-estar e não os que te mantém no mesmo recinto que os próprios medo. Um livro que mesmo com um final trágico te estimula a viver no limite, e tanto quanto Kerouac prega um valor inestimável ao ser humano, a liberdade.

Trecho de uma carta de Chris reproduzida no livro:

‎"Tanta gente vive em circunstâncias infelizes e, contudo, não toma a iniciativa de mudar sua situação porque está condicionada a uma vida de segurança, conformismo e conservadorismo, tudo isso que parece dar paz de espírito, mas na realidade nada é mais maléfico para o espírito aventureiro do homem que um futuro seguro. A coisa mais essencial do espírito de um homem é sua paixão pela aventura. A alegria da vida vem de nossos encontros com novas experiências e, portanto, não há alegria maior que ter um horizonte sempre cambiante, cada dia com um novo e diferente Sol."