quinta-feira, 4 de junho de 2009

Um Estranho Pura-Vergonha

O cara entrou no ônibus na minha frente, óculos de grau, jaqueta de couro muito mais larga que o tronco e cabelo curto enrolado. Não tinha mais lugar para sentar, o ônibus já estava na penúltima parada do Campus e no horário de saída das aulas, passei a roleta e fiquei de pé, com a mão no puta merda. Na última parada antes de sair da universidade o cobrador soltou, rindo, o bordão “um passinho a frente aí pessoal”. Baita filho da puta, ao falar com escárnio por um momento eu desejei que entrasse um ladrão e apontasse um 38 no rim do motorista sem mulher.

Naquele ônibus lotado encontrei mulheres lindas que me olhavam, mulheres lindas que não me olhavam, mulheres simpáticas que correspondiam meus olhares e mulheres solteiras encalhadas que não tiravam os olhos de mim. Resolvi ir um pouco mais pra frente, pois estas são as piores, fugi delas e cheguei perto do cara. Diferente de mim, para ele ninguém olhava, nem ele mesmo tentava se olhar pelo vidro, passou o trajeto inteiro despercebido dirigindo seus olhos para o chão, cabeça baixa como se tivesse medo do mundo.

Quase perto da minha parada liberou um lugar na frente do cara, uma moça tinha se levantado para descer e sobrou o banco do corredor. No assento da janela tinha uma garotinha introspectiva, cara de querida, super quieta, super na dela. O assento ficou desocupado por aproximadamente um minuto e o cara não sentou, o ônibus continuava cheio, ainda havia aproximadamente umas 15 pessoas de pé e aquele cara não sentou com um banco na sua frente, talvez ele teve medo de ficar do lado de uma garota, foi a única coisa que eu pensei no momento depois de analisar os trejeitos do nerd. Ele parecia que não iria sentar mesmo quando uma mulher que estava atrás dele pediu licença, perguntou se ele ia sentar ou não, ele não respondeu, apenas abriu espaço para a mulher sentar.

Mais uma parada à frente e aconteceu a mesma coisa, ao lado do banco vazio ficou uma garota, ele não sentou, passei na frente e sentei, mesmo sabendo que já teria que levantar para descer. Naquele momento a minha cabeça já pensava que ele tinha problemas, tais como hemorróidas ou esfíncter frouxo, mas antes de eu terminar meu pensamento a respeito do cara, um sujeito idoso levantou do assento, aqueles assentos únicos e o cara rapidamente tomou o lugar do velhote. Sentou porque não tinha ninguém do lado, não haveria de ter, óbvio, entretanto permaneceu o tempo inteiro de pé apenas por vergonha de dividir o lugar com alguém desconhecido.

Há mais pessoas assim na cidade do que a gente imagina, os antônimos dos sem-vergonhas, são os pura-vergonhas que possuem aquela timidez doentia ou talvez nem seja isso, de repente é um ódio mortal da sociedade e das pessoas, misantropia aguda, ou receio de mulheres, não sei ao certo, achei melhor descer daquele refrigerador ambulante e ir pra casa me esquentar na frente da lareira, porém no meio do caminho me lembrei que não tinha lareira. Que merda.

Um comentário:

Bruno Philippsen disse...

Boa categoria para esse texto! "Histórias"! Boa crônica! Eu tb sento do lado das menininhassss! Sou dos sem-vergonhas! hueheuheueheu!